Lançado em 1989, "Beneath the Remains" foi o disco que catapultou o Sepultura de vez para a cena mundial do Heavy Metal. A banda já havia alcançado certo reconhecimento com "Schizophrenia", mas foi com o terceiro disco do grupo que o sucesso pareceu algo alcançável e não apenas algo desejado e irreal. O Sepultura sempre foi uma banda que não repetia os discos que fazia. Se eles já tivessem feito algo, não havia motivos para repetir o feito. Claro que não pulavam de um gênero para outro, mas, sim, apresentavam uma evolução musical a cada registro gravado.
A banda que um dia lançou o mórbido "Morbid Visions", um disco cru, seco e ríspido, agora iniciava seu novo trabalho com dedilhados acústicos e soturnos, antes da pancadaria rolar solta na faixa-título, tendo uma bateria que acompanhava bem as guitarras frenéticas da canção que mostra o quão selvagem é o mundo - o verso do refrão "Who Has Won? Who Has Died? (Quem Ganhou ? Quem Morreu ?)", expressando a aproximação entre a vitória e a morte. Uma canção onde coloca a visão de um futuro existente como algo utópico, só poderia fazer sucesso em uma época onde o Thrash Metal dominava o mundo.
"Inner Self" é a faixa seguinte, sendo um clássico da banda. Apresenta a opressão que um sistema provoca no cidadão:
"Walking these dirty streetsWith hate in my mindFeeling the scorn of the worldI won´t follow your rules"
Aqui a banda mostra a evolução musical que alcançaram depois de anos tocando Metal. Versos secos e carregados de ódio, mas também trechos melódicos, não só nas 6 cordas como também na interpretação de Max, com uma voz mais limpa e melancólica.
O disco foi o primeiro a ser lançado por uma grande gravadora, a Roadrunner Records, a banda conseguiu um orçamento notável de 14 mil dólares; o que foi uma grande conquista para uma banda brasileira. A gravadora nvestiu este dinheiro sem sequer ouvir as demos das duas músicas já mencionadas; então, o Sepultura estava bastante convencido com a qualidade do material que eles iriam proporcionar como resultado final disto tudo. Felizmente tudo ocorreu como esperado - talvez, até melhor que o esperado!
Faixas como "Stranger Than Hate" que é, sem dúvidas, um dos pontos altos do registro, com uma linha de bateria destruidora de Igor. Seguem "Mass Hyspnosis" e "Sarcastic Existence", esta primeira repleta de riffs e melodias bem encaixadas por Andreas Kisser, apresentando momentos violentos sem esquecer do feeling. Menção honrosa à linha de baixo de Paulo Junior; a segunda possui uma introdução longa, embora tenha os vocais de Max e é mais centrada no seu instrumental do que em realmente passar uma mensagem ao ouvinte.
O álbum rendeu uma turnê mundial; na Europa, fizeram uma tour conjunta com o Sodom - era o auge da carreira da banda alemã, naquela época. Porém, o Sepultura também tinha uma base de fãs respeitável, o que causou certa inveja ao Sodom, ao verem um grupo da América do Sul render uma resposta muito positiva do público. Isto rendeu uma história famosa onde Max e o resto da banda deixou de tomar banho por dias apenas para causar desconforto em algumas pessoas que trabalhavam para a banda alemã que se mantinham bastante limpas.
Com essa turnê mundial, o resultado está cravado na história: O Sepultura alcançou o que almejava e estavam cada vez mais perto de se tornarem uma das maiores bandas de metal do mundo.
E para que isso acontecesse, a banda teria de gravar mais petardos. E isso eles conseguiram, tendo a incrível "Slaves of Pain" como exemplo. Musicalmente, é uma das músicas que mais define a sonoridade do disco; é talvez a mais direta do álbum, um verdadeiro soco no meio de um moshpit; liricamente, consegue trazer alguma coisa positiva em meio à escravidão causado pela dor, dizendo: "...liberty is a dream and it also is real...".
"Lobotomy" é uma das músicas com mais identidade Thrash no disco, é veloz e pesada do início ao fim. "Hungry" é outra que começa sem aviso prévio, na hora da escolha da numeração das músicas, foi bem emendada com sua antecessora, pois apresenta características similares: riffs indo e vindo e uma linha de bateria cadenciada, com algumas viradas, seguida de momentos mais Hardcore, com batidas frenéticas.
A nona faixa encerra o disco, mostrando uma visão embaçada e pessimista do futuro. Quase 30 anos após essa música ser lançada, ainda mostra a situação em que vivemos em nosso país. Palavras chaves que fizeram parte da nossa história nos últimos anos como "Gigante Adormecido", "Ouço gritos dolorosos de guerras que estão por vir" e "Futuro Primitivo". Estão presentes nessa música chamada "Primitive Future", representando muito bem a atual situação em que vivemos.
Por Elkiaer Ribeiro
Max Cavalera - Vocal e Guitarra
Andreas Kisser - Guitarra
Paulo Jr. - Baixo
Igor Cavalera - Bateria
1. Beneath the Remains
2. Inner Self
3. Stronger Than Hate
4. Mass Hypnosis
5. Sarcastic Existence
6. Slaves of Pain
7. Lobotomy
8. Hungry
9. Primitive Future