sexta-feira, 20 de abril de 2018

Moonspell - 1755 (2017)


No mês de novembro passado após curtos dois anos de espera, o ícone do metal português Moonspell lançou o seu décimo segundo trabalho de estúdio denominado "1755", álbum que recebeu diversas críticas positivas da mídia especializada. Para quem não conhece a banda, ela pode ser descrita essencialmente como "Metal Gótico", mas que incorporou através de seus trabalhos outros gêneros do metal, como o Doom, o Sinfônico além de incorporar o folclore português, pois a banda em diversos momentos utiliza a temática tanto na melodia, como na lírica, que é o caso de "1755". 
Neste trabalho, a temática consiste no grande terremoto (ou sismo, como dizem por lá) ocorrido em 1º de Novembro de 1755 em Lisboa, fato extremamente relevante para a história portuguesa pois além dos tremores, houve também um maremoto que seguiu devastando a cidade e as áreas onde o mar não chegou foram tomadas pelos incêndios, além da tragédia em si que deixou milhares de mortos e devastou a cidade carrega a simbologia de ser no dia de "Todos os Santos", feriado cristão no país, tal festivo foi um agravante para a tragédia, pois muitos fiéis estava nas ruas, além disso nas letras exploram os questionamentos em relação à bondade de Deus ou a existência dele.

Musicalmente classifico o álbum como uniforme, o que não quer dizer que é um álbum chato, pelo contrário é um álbum muito bom, pois passa rápido, você não percebe na audição que você está na quinta ou sexta música, acredito que seja algo proposital pois como o álbum segue uma mesma lírica portanto não teria muito sentido ter uma oscilação musical muito radical. Naturalmente, como o tema se retrata de uma tragédia natural sem precedentes naquele contexto histórico, o clima do álbum não é dos mais alegres, é um álbum musicalmente denso no qual os vocais lúgubres e soturnos de Fernando Ribeiro são protagonistas e o fato de ser quase que integralmente cantado em português (com trechos em latim) dá maior identificação ao ouvinte acerca do tema. As letras são maravilhosas, pode ser um exagero pessoal, mas poucas vezes vi no metal em português algo tão bem elaborado, poeticamente rico nos últimos tempos.
O álbum começa com a "Em nome do Medo", que é uma faixa "comum" mas com aspectos introdutórios, sem presença das guitarras, mais orquestrada, com vocais líricos com um jogo poético na sua letra, depois temos a faixa homônima ao álbum, que mantém um pouco a pegada da primeira faixa, mas com a presença marcante das guitarras com riff precisos e trabalhados, depois um solo que lembra muito o "oriental metal" do Orphaned Land, (que de longe é algo negativo) depois mantendo a pegada temos "In Tremor Dei", destacando o dilema que a tragédia seria obra ou abandono divino.


Depois temos uma sequencia de faixas mais pesadas, "Desastre", "Abanão" (que significa tranco, sacudida) e "Evento", apesar do peso presente, as canções não perdem as características das faixas anteriores, mesmas linhas vocais, poucas alterações rítmicas e manutenção dos vocais de apoio orquestrados. Em relação à lirica, essas canções acompanham o peso das canções e atacam a fé e a religiosidade de forma mais direta. A sétima faixa, "1º de Novembro" é a faixa mais agressiva do álbum, com maior presença das guitarras e com riff marcantes e o vocal mais rasgado, a letra retrata outro ponto de vista do ocorrido, como sinal dos tempos e o nascimento de uma nova Lisboa. Em seguida temos a faixa "Ruinas", mantendo os vocais mais rasgados porém com uma pegada mais cadenciada retrata sempre de forma poética o desdobramento pós desastre. A nona faixa "Todos os Santos", o epílogo da lírica do álbum, retrata a manhã seguinte do terremoto e "ironiza" o feriado, afirmando que "Todos os santos não chegaram", analisando mais profundamente seria um questionamento do tipo "O que adianta rezar para os santos se somos vítimas de tal desgraça?". Na décima faixa temos a belíssima versão de "Lanterna dos Afogados" dos Paralamas do Sucesso, onde a banda coloca toda a sua identidade na música. A última faixa é a versão em espanhol da "Desastre", mantendo a qualidade da canção, mesmo em outro idioma.


Fernando Ribeiro - Vocal
Mike Gaspar - Bateria
Ricardo Amorim - Guitarra
Pedro Paixão Telhada - Teclado
Aires Pereira - Baixo

1. Em Nome Do Medo
2. 1755
3. In Tremor Dei (feat. Paulo Bragança)
4. Desastre
5. Abanão
6. Evento
7. 1 De Novembro
8. Ruínas
9. Todos Os Santos
10. Lanterna Dos Afogados (cover de Paralamas do Sucesso)

Conheça mais sobre a banda

Um comentário :