Era uma vez, um jovem do interior; mais precisamente, da pequena e aprazível Flórida Paulista/SP. Este jovem, empreendedor, inaugurou, em 24 de Maio 1988, uma loja de discos no Edifício Grandes Galerias, hoje, conhecido no mundo inteiro pelo vulgo, Galeria do Rock, que possui entradas pela Av. São João e pela R. 24 de Maio, centro de São Paulo; sintomático, não? O nome daquele jovem é Luis Carlos Calanca.
A loja, Baratos & Afins, trabalhava com discos voltados ao Rock e, atraindo este público, tornou-se "point" da galera. Visionário, Calanca percebeu que afloravam bandas de rock para todos os lados e mercado para estas bandas. Criou o selo independente homônimo à loja. Relançou discos dos Mutantes e de seu líder, Arnaldo Baptista, que deram retorno. Isto encorajou-o a lançar bandas novas, dos mais diferentes estilos, como o hard rock da Patrulha do Espaço, o rockabilly do Coke Luxe, o new wave do Felline e o positive punk do Voluntários da Pátria.
Chegou o ano de 1984. Antenado, Calanca, vendo que o público do Rock pesado crescia a olhos vistos, foi curtir os shows que aconteciam num evento que ocorria na Concha Acústica do Parque da Aclimação, em São Paulo. Este evento intitulava-se "Praça do Rock" e reunia várias bandas, atraindo muito público.
Calanca já tinha em sua mente o projeto de lançar um álbum do grupo Centúrias, que já despontava àquela época, mas impressionou-se com a performance do grupo Salário Mínimo naquele evento e outra ideia começou a maturar em seu cérebro.
Além do Centúrias, havia outros grupos que Calanca desejava lançar; Abutre, A Chave do Sol e Harppia, entre outros.
Fizeram-se reuniões, ora na Baratos & Afins, ora na sede do Jornal do Cambucí. Ao final destas reuniões, nasceu o projeto da coletânea SP Metal I, que contaria com os grupos Centúrias, Virus, Salário Mínimo e Avenger.
Não havia, na época, bons instrumentos, equipamentos e, menos ainda, produtores e técnicos de som que conhecessem o Rock pesado. Os quatro grupos entraram em estúdio com a cara e a coragem e as gravações ocorreram entre Agosto e Setembro de 1984. A arte da capa foi criada pelo vocalista do Virus, Flavio e ficou tão legal que foi reaproveitada no segundo volume.
Vamos ao álbum. Este abre com "Missão Metálica", do Avenger. A gravação é medonha; vocais e baixos em baixíssimo volume, bateria com som de panelas, guitarras com som de cortador de grama, mas havia talento musical alí. Lembra as primeiras canções do Judas Priest, da era Rocka Rolla.
Em seguida, o Centúrias vem com uma composição falando de uma das maiores paixões dos roqueiros, a motocicleta. "Duas Rodas" tem os bons vocais de Edú, bons "riffs", Milani destruindo no baixo e Paulo Thomaz mostrando ser grande baterista.
O Virus apresenta toda a sua ousadia em "Mattew Hopkins", faixa empolgante, rápida, dotada de grandes guitarras e boa letra, mesmo com a falta de qualidade da gravação, o Virus destacava-se pela qualidade musical e lírica.
O Salário Minimo fecha o lado A com "Cabeça Metal"; cadenciada, mostrando uma banda esforçada e um vocalista dono de voz poderosa, China Lee.
O lado B abre com um baixão! Marcio Milani mostra novamente seu talento na introdução de "Portas Negras", sem dúvida o "hino" do SP Metal I. Tudo nessa canção é bom, exceto a qualidade da gravação.
O Salário Mínimo retorna com "Delírio Intsreatelar"; uma grande canção, superior à "Cabeça Metal", o que não é pouco! Boa letra, bons vocais, cozinha e guitarrista esforçados. Uma banda aguerrida até os ossos!
O Avenger vem com "Cidadão do Mundo"; boa letra, músicos competentes, mas, francamente; Paulo Egydio Rossi não era um cantor de Heavy Metal. Faltava arrojo ao grupo, também.
Arrojo este que excedia no Virus, que fecha o SP Metal I com chave de ouro! "Batalha no Setor Antares" vinha com letra que fugia do lugar comum. Fernando "Piu Blackmore" triturando sua guitarra. A canção, que começa com um dedilhado despretencioso, vai acelerando e crescendo até chegar quase ao Thrash.
A coletânea fez tamanho sucesso que gerou um filho; SP Metal II, lançado em 1985. As gravações apresentaram pouquíssima melhora, mas as bandas participantes novamente revelam toda sua garra e talento.
A primeira canção vem com uma novidade. A única banda não-paulistana de ambos os álbuns, a Santuário era oriunda de São Vicente, litoral paulista, que era um barato. Visual medieval, tipo Manowar. Um som calcado na NWOBHM, bons músicos e um ótimo vocalista, o saudoso Julio Michaelis, que infelizmente perdemos para o câncer. "Espártaco; Gladiador Rei" é uma canção inesquecível, guiada pela guitarra de Ricardo "Micka" Michaelis, irmão do vocalista, compositor de mão cheia. A letra, que versava sobre o escravo gladiador Espártaco fugia do lugar comum. Santuário foi uma grata surpresa.
A segunda banda é a melhor do álbum; Korzus. Com um som moderno para a época, calcado no thrash metal da Bay Area, principamente no Slayer, o Korzus foi como uma luz na escuridão."Príncipe da Escuridão" vem com peso, velicidade e rispidez, surpreendendo todo mundo! Um massacre; mal gravado, mas, ainda assim, um massacre!
O Abutre trata de trazer a NWOBHM de volta, pela canção "Rock, Rock, Rock!" com muita competência. Outro vocalista que também deixa saudades, Wagner Giudice, falecido no começo deste ano de 2o017, possuía grande voz.
O Performance's fecha o lado A com "Viajante Perdido", que, apesar da boa letra, bons músicos e o impecável vocal de Robson, não decola. Com o Avenger no volume I, faltava ousadia ao Performance's, mas, que a canção é boa, isso é.
O Abutre abre o lado B com seu "hino", "Quando o Fogo Começa a Arder", que mostra a influência do Judas Priest no som do grupo. Sonzaço!
O Performance's retorna com "Guerreiro da Paz"; u.a ótima canção, onde Robson mostra toda a qualidade de sua voz.
O Santuário vem com a canção que dá nome ao grupo e mostra novamente todo o seu valor. Que música legal.
O Korzus fecha SP Metal II com "Guerreiros do Metal", novamente nocauteando os icautos com sua agressividade sonora. Pompeu destrói na voz.
Os dois álbuns são seminais e todo fã de Rock pesado tem de conhecer.
Luis Carlos Calanca, idealizador do projeto falou com exclusividade ao Terreiro: "O projeto todo foi maravilhoso. Foi insano trabalhar naquelas condições, mas ao mesmo tempo foi instigante, estimulante. A galera estava muito afim e todos ajudaram-se. Não poderia ter sido melhor. A segunda parte tinha de avançar e isso aconteceu".
Hoje, passados maia de trinta anos, temos a alegria de ver o Salário Mínimo e o Korzus em plena atividade e o Abutre ensaiando um retorno, entre outros nomes que entre idas e vindas seguem levando a bandeira do metal adiante.
Fazem a alegria dos saudosistas e são um belo exemplo aos mais jovens.
Ficam as saudades de Wagner Giudice e Julio Michaelis e o sincero agradecimento àquele jovem do interior, Luis Carlos Calanca.
Virus
Flavio(vocais)
Fernando "Piu"(guitarra)
Renato Barros(guitarra)
Carlos Calul(baixo)
Caio de Cápua(bateria)
Centúrias
Edu Camargo(vocais)
Fausto Celestino(guitarra)
Marcio Milani(baixo)
Paulo Thomaz(bateria)
Salário Mínimo
China Lee (vocais)
Junior Muzzili (guitarra)
Magoo (baixo)
Beá (bateria)
Avenger
Paulo Egydio Rossi(vocais)
Roberto "Bob"(guitarra)
Luis Teixeira(baixo)
Gilson(bateria)
Santuário
Julio Michaelis (vocais/R.I.P.)
Ricardo "Micka" Michaelis(guitarra)
Jorge "Rato" Bastos(baixo)
Alessandro(bateria)
Korzus
Marcello Pompeu(vocais)
Silvio Golfetti (guitarra)
Eduardo Toperman (guitarra)
Dick Siebert (baixo)
Maurício "Brian" (batera)
Abutre
Wagner Giudice(vocais/R.I.P)
Ricardo Giudice(guitarra)
Thomas Catafay(baixo)
Adalberto Rosado(bateria)
Performance's
Robson Goulart(vocais)
Luiz Carlos "Tutu"(guitarra)
Davidson Monteiro(guitarra)
Reinaldo Moreno(baixo)
Ricardo Moreno(bateria)
Que foda!!
ResponderExcluir