Em janeiro deste ano a banda israelense Orphaned Land lançou após um hiato de cinco anos o álbum intitulado "Unsung Prophets and Dead Messiahs", um trabalho que dispõe de uma complexidade musical muito grande porém com um excelente nível de produção onde todos os diversos elementos estão muito bem equilibrados, tornando a sua audição extremamente agradável (particularmente foi um desafio muito grande fazer essa resenha mas ao mesmo tempo prazerosa, só espero transmtir isso por meio desse texto). Para quem não conhece a banda, o Orphaned Land é o percussor de um gênero autointitulado "Oriental Metal", que é basicamente uma vertente do folk metal associando com elementos da música do Oriente Médio com as divisões mais comuns do metal.
Para quem conhece a discografia da banda, a parte musical é influência forte dos últimos trabalhos mesclando elementos mais pesados de Mabool e The Never Ending Way of ORWarriOR com a parte orquestrada de All Is One, tornando o álbum versátil em todos os aspectos desde ao tempo das canções como também a levada de cada uma das músicas, outro ponto interessante é o retorno de vocais guturais que eram características mais costumeiras dos primeiros trabalhos da banda. Esse álbum é o primeiro após a saida de um dos fundadores, o guitarrista Yossi Sassi, onde especulou-se o impacto que teria no processo criativo e constata-se que pouco ou nada mudou.
Em relação à parte lírica, o álbum utiliza como temática principal a Alegoria da Caverna de Platão, publicada em seu livro "A Republica" (sugiro a leitura do texto para a melhor compreensão das músicas). A banda utiliza de tal alegoria para correlacionar com fatos e personagens históricos, (pelas faixas pode-se ver diversas referências) os quais seriam os "Profetas desconhecidos e Messias mortos" por aqueles que eram incapazes de sair das trevas da caverna e atentaram contra aqueles que queriam levar a luz da verdade e do conhecimento.
Analisando musicalmente cada uma das treze faixas, a unica uniformidade que notamos é em relação a temática que segue uma sequencia fatual entre elas. O álbum começa com a faixa "The Cave" que dá o cartão de visitas ao ouvinte de qual será a dinâmica do trabalho e também inicia a trajetória do "Profeta" relatando musicalmente a alegoria platônica, o curioso é que se trata de uma canção com um pouco mais de oito minutos, que particularmente acho uma postura arrojada para iniciar um álbum. As faixas seguintes, "We Do Not Resist" e "In Propaganda" são críticas de como instrumentos mediáticos são fatores acorrentadores na busca do conhecimento, a primeira canção mais pesada, com guturais de Kobi Farhi muito bem trabalhados reforçam o tom crítico da canção e a segunda mais orquestrada com a presença de elementos tradicionais é bem curta, com um pouco mais de três minutos somente.
"All Knowing Eye", a quarta canção tem cara de balada, de letra curta relata a que o "Olho que tudo sabe" mantém os seus "escravos" nas trevas, mais uma referência à alegoria platônica (ela tem um riff no final que parece que veio de uma banda de viking metal). Em seguida, vem "Yedidi", canção em hebraico, naturalmente carregada de elementros "folk", algo relativamente corriqueiro para quem já acompanha a banda. A sexta canção é a longa "Chais Fall to Gravity", com a participação do guitarrista Steve Hackett, uma das almas do clássico Genesis, que atualmente está em carreira solo. A música com ar melancólico, mescla o "folk oriental" com os solos mélodicos de Hackett mais o belissimo trabalho de corais, a canção retrata o momento que o "Profeta" sai da caverna e buscará o conhecimento que está na luz. A faixa seguinte é a "Like Orpheus", o primeiro single deste trabalho conta com a participação do vocalista do Blind Guardian, Hansi Kürsch (também conhecido como "O Deus Vivo"), uma canção mais simples musicalmente, acredito que na medida para ser a faixa de divulgação, sem contar no clipe que possui uma sensibilidade muito grande em relação à liberdade religiosa contando com a participação (somente visual) do "Big Four" alemão Kreator. Na faixa oito, temos a curta "Poets Of Prophetic Messianism", outra canção com pegada mais folk. Logo depois, vem "Left Behind" e "My Brother's Keeper", canções que vem com o pacote completo dos elementos do álbum, eles retratam o dilema do "Profeta" de resgatar ou não aqueles que permanecem na "caverna".
A antepenúltima canção, "Take my Hand" mantém a dinâmica das faixas anteriores e retrata o convite do "Profeta" para que os demais que estão na caverna saiam de suas correntes e partam para a luz do conhecimento. "Only The Dead Have Seen The End Of The War" canção que conta com a participação de Tomas Lindberg (At The Gates) que da por meio do seu gutural o peso necessário que o título retrata, mas sem perder a parte orquestrada e as influências do "Oriental Metal" da banda. A faixa fala da morte "Profeta" (no final da faixa pela sonoplastia, dá a entender que ele foi decapitado) e encerrando o trabalho, temos a praticamente instrumental "The Manifest - Epilogue", com a pegada de "balada" apresentada em outras canções (na verdade é um trecho bem semelhante da Chais Fall to Gravity) fazendo referências aos "Profetas desconhecidos e Messias mortos". Não é nenhum exagero chamar esse álbum de "obra prima" musical da banda israelense, um trabalho minucioso, complexo, mas que tem um resultado esplêndido, um belo "tapa na cara" daqueles que acreditam que fonte de ideias para o metal secou, um álbum que deve ser ouvido diversas vezes para se entender completamente e cada nova audição aumenta a vontade de ouvir novamente.
Agradecimentos ao Marcelo Soutullo pelo ótimo texto!!
Kobi Farhi – Vocais
Chen Balbus – Guitarra
Idan Amsalem – Guitarra
Uri Zelcha – Baixo
Matan Shmuely – Bateria
01. The Cave
02. We Do Not Resist
03. In Propaganda
04. All Knowing Eye
05. Yedidi
06. Chains Fall To Gravity
07. Like Orpheus
08. Poets Of Prophetic Messianism
09. Left Behind
10. My Brother’s Keeper
11. Take My Hand
12. Only The Dead Have Seen The End Of War
13. The Manifest – Epilogue