segunda-feira, 18 de junho de 2018

Night - Raft Of The World (2017)

Século 21 se tornou tão politizado e cheio de ódio, dizer que apoia algo ou uma ideia se transformou em motivo de agreções verbais e até mesmo físicas. Sabemos que o ser humano ao mesmo tempo que necessita viver em sociedade não consegue conviver com a mesma, e por isso o aumento estrondoso de violência gratuita e sem nexo. Até onde vamos parar? Dentro do próprio meio do Metal vemos essas agressões, o antigo discurso de união hoje se tornou banal e esquecido. Uma ideia divergente é motivo de balbúrdia e 'motim', e pasmem, sem nenhuma argumentação concreta, apenas um ódio interno que queima sem fim. Como ser humano que sou, tenho direito de pensar, e eu penso que da mesma forma que aprendemos com os erros do passado podemos aprender com os acertos, pois podemos maximizar esses acertos e assim sermos mais bem sucedidos ainda. Socialmente falando, estamos regredindo a meios violentos e errôneos. Porém, em sentido musical, o Metal vem se renovando com o passado! Como assim? Permita-me levar-te para uma viagem no tempo em poucos minutos. 



Emergindo da Suécia em pleno 2011, a banda Night apresenta para nós um som belo, jovial mas muito saudosista. A banda lançou seu primeiro Full em 2013, sendo esse homônomio, o disco é virtuoso e nos apresenta bem a personalidade do grupo, vocais mais agudos, instrumental clássico das décadas de 70 e 80, e bastante energia. O segundo disco chamado de "Soldiers of Time" foi lançado em 2015, e mostra um bom amadurecimento dos jovens que optaram por utilizar um caminho que não colocasse por fim a banda em uma reta até o peso do metal, afinal, com o passar dos anos, o metal acabou por sempre procurar caminhos mais pesados e mais obscuros. E por fim, 2017 foi brindado com o belo, e esplêndido "Raft of The World", um disco saudosista e de alto calibre, que contempla a mais bela essência dos anos 70, até mesmo a essência lírica de saudosismo e simplicidade é ouvida neste disco. Sobre o conceito do álbum, Oskar, Vocalista da banda, disse: "Eu sentia uma necessidade extrema de me expressar em um nível mais pessoal, que realmente não tinha sido uma prioridade para mim antes de começar a trabalhar nas novas músicas. Vivendo em um mundo enlouquecido, constantemente cercado por pessoas cujo estilo de vida é basicamente enraizado na ganância (...) faz você pensar sobre o que é realmente importante na vida, acho que isso desencadeou meu fluxo criativo e filosófico que se manifestou nas novas músicas.".

A beleza do disco não vem unicamente de seu conceito e som, a arte do disco também chama atenção, por seus tons escuros de vermelho e preto. É um prazer poder entender o conceito de um disco desde sua capa, e é mais prazeroso ainda quando este conceito é belamente apresentado. Na arte do disco, podemos ver um navio, ou jangada (Raft), queimando meio a um imenso mar, simbolizando assim o curso de nosso planeta, afinal, a 'Jangada do Mundo' (tradução livre de "Raft of The World") está se destruindo e indo de mal a pior. E esse tema de depredação moral e social é abordado pela primeira canção do disco, "Fire Across The Sky". As primeiras frases ditas na música nos mostram o sentido a ser trabalhado pela obra: "Me siga pelo caminho de ilusões / Perto do Rio de Mentiras / Procurando um novo lugar para ir / Eu andei nos caminhos de ilusões / Unido por medo e desgraça / Até cair no desconhecido / Fogo atravéz do Céu / O Mundo está em seu fim". Sobre o instrumental, não preciso mencionar muito, afinal a banda segue a bela influência de grandes nomes como Budgie, Hawkwind, Millennium e Saxon. Um instrumental limpo, sem distorções 'metalizadoras' e muita genialidade. A bateria clássica e simples acompanha bem as cordas suaves apresentadas. Em "Surrender" o belo som mesclado de notas suaves, com uma base mais rítmica, passa ao ouvinte a sensação de pureza, qualidade, e confiança. Acho que neste álbum, a banda alcançou seu ápice de entrosamento, de criatividade e finalmente achou seu nicho dentro da música mundial. E fica mais evidente isso na faixa "Under The Gallows", que traz o estilo mais despojado do Rock Clássico, e o mescla com os ritmos mais metalizados, porém sem perder a sonoridade mais simples.


Na sequência, a pequena transição calma e bela, "Omberg" abre caminho para a mais agitada "Time", que foi escolhida para ser o clipe apresentado pela banda. A faixa segue os moldes do início do NWOBHM, juntamente de um baixo mais continuo, e guitarras batidas em power acchords e claro, o vocal de Oskar sempre em sua medida ideal. Além disso, os solos repletos de feeling criam mais uma atmosfera substantiva e perfeita para a canção. "Strike of Lightning" nos brada com muita categoria e sons maravilhosos, e muita criatividade. Guitarras mais fraseadas, juntamente de um baixo bem presente e uma bateria suave sintonizam com vocal de forma esplêndida. 

As 3 faixas finais do disco são matadoras, sentimos a voz de Oskar falando conosco, nos mostrando como vivemos num mundo decadente e sem sentimentos. "Winds" embeleza de uma forma maravilhosa o disco, voltando aos antigos moldes do princípio do NWOTHM, porém sem peso de distorções carregadas, ou bases mais poderosas, apenas com simplicidade e criatividade, a faixa domina os ouvintes e ecoa de forma inimaginável nos cérebros alheios. Mas quando você pensa que não tem como melhorar, eis que a perfeição exala, e talvez em toda minha vida, eu jamais tenha achado que uma balada seria tão boa, até escutar a bela "Coin In A Fountain". Caros leitores, amantes do Metal, e amigos. Esta música possui uma magia incompreensível, os vocais trabalhados em um belo Reverb, seguido de muito feeling dos violões, criam uma faixa extremamente simples, cativante, com presença e apaixonante. Talvez, seja está a faixa destaque deste disco para mim. Para finalizar o disco de forma coerente, "Where Silence Awaits" retoma o clássico Rock n'Roll que a banda vinha apresentando, os garotos suecos conseguiram finalizar um disco quase sem nenhum pecado. Venho por meio desta pequena resenha, ressaltar o quanto o disco é belo, e bem construído. Talvez seja assim que o som da perfeição soe.

Quando falamos sobre o passado, devíamos ver onde erramos e corrigir apenas eles. Infelizmente, hoje não conseguimos distinguir o que se deve ou não corrigir, muitos fatores influenciam, desde a polarização partidária e/ou ideológica, até a falta de incentivo educacional. O mundo tem se tornado uma grande bola de urânio, prestes a entrar em reação, e por fim, devastar tudo. A paz se esvaiu, o respeito já partiu, e a união já deixou de existir a muitas luas. Talvez a única faísca de esperança, possa ser erguida atravéz da VERDADEIRA ARTE, que sempre teve o poder de transformar, unir e apaziguar. O Night me orgulha imensamente devido a sua teimosa insistência de buscar a união atravéz de sua mentalidade e sua mensagem, eles buscam suas inspirações no passado, e trazem até nós um trabalho feito com amor, sem preconceitos, sem distinção, sem polarização, sem maldade. Eles apenas fazem seu som, ser o seu som, e mesmo sem gritarem por união, sentimos isso ao ouvir tal disco.

Redigido por Yurian Paiva


Oskar Andersson - Vocals, Guitars
Sammy "Filip" Peterson - Guitars
Joseph Max - Bass
Dennis Skoglund - Drums

Tracklist:
1. Fire Across the Sky
2.Surrender 
3.Under the Gallows
4.Omberg
5.Time
6.Strike of Lightning
7.Winds
8.Coin in a Fountain
9.Where Silence Awaits

Nenhum comentário:

Postar um comentário